Imunizar jovens será a garantia de um futuro positivo

O FDA (Food and Drug Administration, a agência que regula medicamentos nos EUA) alterou recentemente a autorização de uso emergencial da vacina da Pfizer contra Covid-19 em crianças com idades entre 12 e 15 anos. Embora não seja um grupo prioritário, muitos acreditam que esses jovens, se não vacinados, poderão ser os vetores de transmissão futura.
A autorização veio após um ensaio clínico da vacina em 2.260 adolescentes. No ensaio, 1.131 participantes receberam a vacina e 1.129 receberam um placebo salino. O estudo concluiu que a vacina foi 100% eficaz na prevenção de Covid-19 entre os participantes, sem nenhum participante do grupo da vacina desenvolver a doença, em comparação com 18 no grupo do placebo. O estudo também descobriu que os adolescentes desenvolveram níveis ainda mais elevados de anticorpos após a vacinação do que os adultos.
Também a Moderna e a Johnson & Johnson realizam testes de uso de vacinas em adolescentes, mas de uma faixa etária mais ampla – entre 12 e 18 anos. Os resultados da Moderna, em fase mais avançada, são esperados para um futuro próximo.
Esses dados têm importância dentro do contexto da discussão a respeito da retomada das aulas presenciais. Quando a vacinação de crianças e jovens puder ser adotada de forma ampla, teremos um movimento de reintegração plena dos alunos às salas de aula. Tenho insistido que a perda ocasionada pelo fechamento de escolas será uma das grandes cicatrizes da pandemia.
O Brasil perdeu muito em termos de formação escolar destes jovens. Um estudo recente feito por pesquisadores brasileiros mostra que o risco de abandono aumentou 365% durante o fechamento de escolas em 2020 no Estado de São Paulo. O estudo diz que, apesar dos temores de se contrair covid-19, a maior parte desse aumento pode ser atribuída diretamente à ausência de aulas presenciais. Além disso, as perdas de aprendizagem, dizem os pesquisadores, se devem ao fechamento de escolas, mais que a qualquer outro impacto econômico ou na saúde causado pela Covid-19.
Eles afirmam que os custos sociais de se manter escolas fechadas na pandemia são muito grandes, como o risco de efeitos duradouros sobre emprego, produtividade e níveis de pobreza, e destacam que a reabertura de escolas com protocolos de segurança pode “evitar que esses custos cresçam ainda mais”.
A falta de instrumentos que viabilizassem as aulas remotas também se fez sentir no Brasil: dados do Unicef (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância) mostram que no Brasil, em novembro de 2020, cerca de 1,38 milhão de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não frequentavam a escola remota ou presencialmente. Outros 3,7 milhões de estudantes matriculados não tiveram acesso a atividades escolares nem tiveram como estudar em casa. Muitos desses casos são de famílias mais pobres, que não contam nem com equipamentos como notebooks ou tablets nem com conexão doméstica à internet.
Vivemos hoje a revolução da economia 4.0, baseada em informação e tecnologia digital. Da educação dos jovens dependerá a inserção do Brasil neste universo, em que os empregos mais bem remunerados vão exigir qualificação e formação escolar consistentes. Corremos o risco de ficar para trás, apenas com vagas de pouca exigência de conhecimento e longe de poder realizar avanços significativos em termos de crescimento econômico e de produtividade.
O Brasil, que já tinha que melhorar e acelerar muito sua educação desde antes da pandemia, depois desta terá um caminho ainda mais longo a percorrer. É preciso fazer com que a vacinação avance em suas primeiras fases, para chegar o quanto antes aos grupos prioritários, de modo a que, quando se tornar segura, a imunização de jovens possa começar sem demora. Mas mesmo no atual momento, restaurar alguma normalidade às atividades escolares precisa ser uma prioridade absoluta. Afinal, os jovens são a garantia de que teremos um futuro, e a educação é a garantia de que esse futuro poderá ser próspero.

Torun
17/05/2021 13h40